Dia
13 de Maio
Para
alguns é
o 133º dia do ano no calendário
gregoriano (134º
em anos
bissextos).
Faltam 232 para acabar o ano. O 13 de maio, por tratar-se do 133º
dia do ano é considerado pelas ordens secretas, esotéricas,
filosóficas e místicas como sendo uma proporção áurea do ano
(Wikpédia).
É
o dia de Nossa Senhora de Fátima, foi sua primeira aparição em
Portugal.
É
o dia da libertação dos escravos, mas quando a Princesa Isabel
assinou o tratado ela cumpriu com vários desígnios entre eles o de
livrar o povo negro e sofrido do seu martírio, assim determinado no
astral a Vó Maria Conga espirito da nação dos preto-velhos.
Precisaríamos
entender que Preto-Velho é uma designação outrora ligada
exclusivamente aos Negro Velhos mas que tem significância maior pois
relaciona-se com a experiência, a maturidade e a instrumentação da
Fé.
Muitos
discutem o valor ético, étnico e origem desse mistério, que com
certeza se estende entre outras religiões espiritualistas de origens
distintas. Bobagem de encarnados como varias vezes ouço pai Benedito
falar, mas não entrando no mérito, esses amigos e conselheiro são
o que são uma fagulha de AMOR em forma de FÉ, ou FÉ em Forma de
AMOR.
Vou
introduzir alguns relatos interessantes sobre essa falange:
“Segundo
os relatos de Alexandre Cumino em "Preto-velho"
na Cultura Brasileira e na Umbanda Pai
Antônio foi o primeiro preto-velho a se manifestar na Religião de
Umbanda em seu médium Zélio Fernandino de Morais onde se
estabeleceu a Tenda Nossa Senhora da Piedade. Assim, ele abriu esta
"linha" para nossa religião, introduzindo o uso do
cachimbo, guias e o culto aos Orixás.
O
"Preto-velho" está ligado à cultura religiosa Afro
Brasileira em geral e à Umbanda de forma específica, pois dentro da
Religião Umbandista este termo identifica um dos elementos
formadores de sua liturgia, representa uma "linha de trabalho",
uma "falange de espíritos", todo um grupo de mentores
espirituais que se apresentam como negros anciões, ex-escravos,
conhecedores dos Orixás Africanos.
São
trabalhadores da espiritualidade, com características próprias e
coletivas, que valorizam o grupo em detrimento do ego pessoal, ou
seja, são simplesmente pretos e pretas velhas com Pai João e Vó
Maria, por exemplo.
Milhares
de Pais João e de Avós Maria, o que mostra um trabalho
despersonalizado do elemento individual valorizando o elemento
coletivo identificado pelo termo genérico "preto-velho".
Muitos até dizem "nem tão preto e nem tão velho" ainda
assim "preto velho fulano de tal". A falta de informação
é a mãe do preconceito, e, no caso do "preto-velho",
muitos que são leigos da cultura religiosa Umbandista ou de origem
africana desconhecem valor do "preto-velho" dentro das
mesmas.
Preto
é Cor e Negro é Raça, logo o termo "preto-velho"
torna-se característico e com sentido apenas dentro de um contexto,
já que fora de tal contexto o termo de uso amplo e irrestrito seria
"Negro Velho", "Negro Ancião" ou ainda "Negro
de idade avançada" para identificar o homem da raça negra que
encontra-se já na "terceira idade" (a melhor idade). Por
conta disso alguns sentem-se desconfortáveis em utilizar um termo
que à primeira vista pode parecer desrespeitoso ao citar um amável
senhor negro, já com suas madeixas brancas, cachimbo e sorriso
fácil, por trás do olhar de homem sofrido, que na humildade da
subjugação forçada e escrava encontrou a liberdade do espírito
sobre a alma, através da sabedoria vinda da Mãe África, na figura
de nossos Orixás, vindo ao encontro da imagem e resignação de
nosso senhor Jesus Cristo.
Alguns
preferem chamá-los apenas de "Pais Velhos" o que é bonito
ao ressaltar a paternidade, mas ao mesmo tempo oculta a raça que no
caso é motivo de orgulho. São eles que souberam passar por uma vida
de escravidão com honra e nobreza de caráter, mais um motivo de
orgulho em se auto-afirmar "nêgo véio" e ex-escravo;
talvez assim se mantenham para que nunca nos esqueçamos que em
qualquer situação temos ainda oportunidade de evoluir. Quanto mais
adversa maior a oportunidade de dar o testemunho de nossa fé.
O
"preto-velho" é um ícone da Umbanda, resumindo em si boa
parte da filosofia umbandista. Assim, os espíritos desencarnados de
ex-escravos se identificam e muitos outros que não foram escravos,
nesta condição, assim se apresentam também em homenagem a eles,
por tê-los como Mestres no astral.
No
imaginário popular, por falta de informação ou por má fé de
alguns formadores de opinião, a imagem do "preto-velho"
pode estar associada por alguns a uma visão preconceituosa, há
ainda os que se assustam " com estas coisas" pois não
sabem que a Umbanda é uma religião e como tal tem a única proposta
de nos religar a Deus, manifestando o espírito para a caridade e
desenvolvendo o sentimento de amor ao próximo. Não existe uma
Umbanda "boa" e uma Umbanda "ruim", existe sim
única e exclusivamente uma única Umbanda que faz o bem, caso
contrário não é Umbanda e assim é com os "Preto-velhos",
todos fazem o bem sem olhar a quem, caso contrário não é de fato
um "preto-velho", pode ser alguém disfarçado de
"velho-negro", o "preto velho" trabalha única e
exclusivamente para a caridade espiritual.
São
espíritos que se apresentam desta forma e que sabem que em essência
não temos raça nem cor, a cada encarnação, temos uma experiência
diferente. Os pretos velhos trazem consigo o "mistério ancião",
pois não basta ter a forma de um velho, antes, precisam ser
espíritos amadurecidos e reconhecidos como irmãos mais velhos na
senda evolutiva.
Quanto
menos valor se dá a forma, mais valor se dá à mensagem, e
"preto-velho" fala devagar, bem baixinho; quando assim se
pronuncia, todos se aquietam para ouví-lo, parece-nos ouvir na
língua Yorubá a palavra "Atotô", saudação a Obaluayê
que quer dizer exatamente isso: "silêncio".
Nas
culturas antigas o "velho" era sempre respeitado e ouvido
como fonte viva do conhecimento ancestral. Hoje ainda vemos este
costume nas culturas indígenas e ciganas. Algumas tradições
religiosas mantêm esta postura frente o sacerdote mais velho,
trata-se de uma herança cultural religiosa tão antiga quanto nossa
memória ou nossa história pode ir buscar, tão antigos também são
alguns dos pretos velhos que se manifestam na Umbanda.
Muitos
já estão fora do ciclo reencarnacionista, estão libertos do karma,
já desvendaram o manto da ilusão da carne que nos cobre com paixões
e apegos que inexoravelmente ficarão para trás no caminho
evolutivo.
Por
tudo isso e muito mais, no dia 13 de Maio, dia da libertação dos
escravos eu os saúdo: "Salve os Pretos Velhos! Salve as Pretas
Velhas! Adorei as Almas! Salve nosso Amado Pai Obaluayê, Atotô meu
Pai! Salve nossa Amada Mãe Nanã Buroquê, Saluba Nana!"
Usamos
para eles velas brancas ou bicolores, metade preta e metade branca,
tomam café e fumam cachimbo.”
“PRETO-VELHO”
– “A ENTIDADE MAIS CARISMÁTICA DA UMBANDA”
Com
certeza a mais carismática entidade que povoa os terreiros de
Umbanda. A mística do Preto
Velho é
fruto de condições e circunstâncias únicas em terras
brasileiras.
A sofrida vida dos escravos, trazidos da África, já
bastante documentada e comentada, fazia com que os indivíduos, em
função do penoso e extenuante trabalho a que eram submetidos,
somado aos maus tratos, vivessem, em média, somente sete anos após
sua chegada ao Brasil.
As
mudanças no panorama econômico brasileiro, como a decadência do
ciclo da cana-de-açúcar e a redução da atividade mineradora,
fizeram com que uma grande leva de escravos migrados, para os centros
urbanos, pudesse levar uma vida mais amena e conseguisse ter uma
expectativa de vida mais longa.
Mesmo
assim as condições de salubridade, nesta época, não favoreciam a
longevidade.
Então surge a figura daquele escravo que, apesar das
suas condições de vida, alcança idade avançada, personificando o
patriarca da raça, cuja sapiência parece lhe ser conferida pelos
cabelos brancos.
Nas
sociedades tradicionais, a figura do idoso é um símbolo da
experiência de vida e um pilar da cultura do grupo a que pertence;
aquele que deve ser ouvido e cujos conselhos devem ser seguidos.
Vemos,
portanto, o aparecimento de uma entidade cuja linha de trabalho é
marcada pela tolerância, rústica simplicidade e um profundo
sentimento de caridade. Só quem sofreu na carne as desventuras da
vida, pode entender ou se aproximar da compreensão do sofrimento
alheio, porque é possível responder a toda violência sofrida, com
amor, sem nenhum sentimento revanchista ou de vingança.
Característica
típica da raça africana é o apego à vida, alegria que se
manifesta em musicalidade e uma sabedoria ancestral quase biológica,
que transparece na religião.
A
forma como se apresenta nos terreiros de Umbanda, através dos
médiuns, é como uma pessoa muito idosa, curvada pelos anos. Às
vezes apoiado em uma bengala, com uma voz meiga, algo paternal que
atrai a confiança e simpatia de quem ouve.
Com movimentos lentos,
típicos de um ancião, geralmente senta-se em um pequeno banquinho
ou num pedaço de tronco, fumando seu cachimbo de barro ou um cigarro
de palha, queimando seu fumo de rolo.
Gosta
de beber desde a cachaça branquinha até o vinho tinto bem forte ou
um café amargo. Mas uma de suas bebidas favoritas é a polpa do coco
verde, triturada no pilão e misturada com um pouco de pinga.
As
histórias que ouvimos a respeito dos Pretos
Velhos,
são bastante variadas e pitorescas.
Dizem
que em vida, foram grandes sacerdotes do culto dos Orixás; que
viveram muitos anos devido a seus conhecimentos mágicos, alcançaram
a sabedoria e usam estes conhecimentos misturados a um pouco de
bruxaria, para os trabalhos de cura e descarrego.
Porém,
algumas histórias nos dizem que eles foram homens comuns, que
alcançaram a redenção espiritual através dos suplícios do
cativeiro. A sua tolerância ao martírio, sem manifestar revolta ou
ódio pelos seus algozes e o profundo amor indiscriminado pela
humanidade, os ascendeu a um patamar de mestres espirituais.
Outros
nos contam que, em vida terrena, os Pretos
Velhos eram
homens predestinados, encarnados para assegurar um lenitivo ao
sofrimento dos escravos, e que, por sua bondade e sabedoria,
cativaram a amizade até dos senhores brancos, a quem também acudia
com conselhos e curas. Daí a sua relativa liberdade para atender,
com suas curas, ao povo pobre e sua misteriosa longevidade que lhe
proporcionava a fama de sábio e feiticeiro por viver muito mais que
a maioria dos escravos comuns.
A
idade avançada de um escravo, já era por si própria, digna de
notoriedade, por fugir, muito, da realidade do cativeiro. Por isso,
aquele elemento devia ter alguma coisa diferente.
Preto
Velho também
gosta de beber, em seu coité, uma mistura de folhas de saião,
trituradas com mel e cachaça.
Um
dos pratos típicos servido nas festas ou como oferenda ao Preto
Velho,
e o mais brasileiro de todos, é feijoada. Comida nascida no Brasil é
o resultado de circunstâncias e do gênio da raça negra.
O
feijão preto era o mais básico e barato alimento na senzala.
Plantado, colhido e preparado pelos escravos, na própria fazenda em
que trabalhavam, era, às vezes, enriquecido pelas sobras de carne da
cozinha da casa grande (geralmente porco). As partes que o senhor
branco não comia, como os pés, a orelha, a garganta, o rabo, o
focinho, etc., iam direto para o tacho coletivo e assim nascia a
feijoada.
A
falange dos Pretos
Velhos guarda
sinais particulares e individuais da origem dos elementos que a
compõem. Antigos escravos, estes ainda conservam certas designações
que denunciam de qual nação ou tribo africana eram oriundos. Assim
encontramos Pai Tião D’Angola, Vovó Maria Conga, Vovô Cambinda,
Pai Joaquim de Aruanda, Pai Zeca da Candonga, todos com uma
característica comum: a bondade e a doçura com que tratam os fiéis
que os consultam, procurando um alívio para suas aflições.
Grandes
conhecedores de magia, dos feitiços de Exú e das propriedades
curativas das ervas, os Pretos
Velhos usam
também a fumaça de seus cachimbos, como os pagés e caboclos, para
dissolver as cargas e energias negativas que envolvem as
pessoas.
Trabalham com passes magnetizantes e indicam banhos de
ervas para seus consulentes.
Porém uma de suas características
mais marcantes é sua força psicológica. Sustentada pelo
conhecimento espiritual, esta entidade surpreende e encanta.
Ensinando,
com seu exemplo, a resignação aos golpes kármicos do
destino.
Conhecido como o psicólogo dos pobres, o Preto
Velho,
embasado em sua rica experiência de vida e transpirando a sabedoria
da idade, sabe, como ninguém, ouvir e entender os problemas de seus
fiéis.
O
grande segredo desta virtude está no perdão aos sofrimentos
recebidos. Perdão este, sem discurso demagógico, que vem de um
sentimento puro de desapego e humildade. Humildade. Talvez seja esta
a palavra chave do carisma do Preto
Velho.
A
linha dos Pretos
Velhos está
dentro da “falange das almas”. Seres desencarnados que alcançaram
uma luz espiritual e retornam, através dos médiuns, ao plano
terreno, numa missão de caridade, como que resgatando uma dívida
espiritual, ajudando os necessitados, tanto na parte física, com
passes magnéticos, defumações e indicando ervas curativas, como na
psicológica, com conselhos e amparo afetivo, praticando a bondade
incondicional que lhes é inerente.
Estas
entidades, dizem alguns, compõem uma linha ligada ao Orixá Omolú,
voltada para a cura e lenitivo nas aflições dos pobres.
As
contas pretas e brancas que formam a sua guia, denunciam uma
similaridade de natureza com este Orixá – Omulú/Obaluaiê –
ligado à terra e às doenças, dela provenientes, além do
semelhante histórico de sofrimentos vividos.
Estes
guias, normalmente, incorporam em seus médiuns, atendendo ao
chamamento dos pontos cantados em sua homenagem, nos terreiros, mas
podem também “baixar” pelo magnetismo de uma oração ou de uma
concentração mental dos fiéis.
Dependendo
da pureza ou da mestiçagem dos rituais de um centro espírita, podem
ser usados atabaques, com seu toque característico da Umbanda, ou
apenas cantos marcados pelo bater de palmas, como verificamos nos
terreiros mais tradicionais que ainda conservam a liturgia simples e
despojada dos primeiros terreiros de Umbanda.
A
sua maneira característica de incorporação, com o dorso curvado,
de andar lento e inseguro, procurando apoio numa bengala, indicam,
instantaneamente, a natureza da entidade. Porém dizem alguns
estudiosos que este comportamento é apenas uma faceta cultural, pois
estas entidades, já não tendo o corpo material próprio, não
poderiam se movimentar aparentando limitações físicas, que na
maioria das vezes nem sequer são oriundas dos médiuns.
O
seu discurso nas preleções e conselhos transpiram uma mensagem
cristã de perdão e compaixão, evidenciando a influência dessa
religião com as citações sobre Jesus e os santos católicos.
Uma
perfeita mistura da moral cristã, com os costumes africanos e o
conhecimento da medicina natural, com práticas de pajelança.
As
guias usadas nos terreiros vêm da direta influência africana,
porém, uma das guias preferidas pelos Pretos
Velhos,
é formada pelas contas de uma semente vegetal que varia do branco
leitoso ao negro. Conhecida, popularmente, como lágrimas de Nossa
Senhora, são extraídas de uma planta da família das gramíneas,
entrelaçadas com dentes de porco selvagem, à moda indígena,
crucifixos e outros fetiches africanos, como a figa de guiné,
revelando a miscigenação cultural / religiosa brasileira.
Por
pertencer à falange de entidades desencarnadas ou “linha das
almas”, os Pretos
Velhos sofrem
uma discriminação nos terreiros afro-brasileiros mais tradicionais
de Candomblé. Porém, apesar de não figurarem no rol exclusivista
dos Orixás africanos, os Pretos
Velhos mantêm
certo prestígio, não oficial, nos corações das pessoas que
pertencem a cultos mais puristas.
Não
raro vemos membros de Candomblés, muito exclusivistas, se renderem à
docilidade e ao carisma desta entidade.
Talvez,
devido aos laços culturais e étnicos que não podem negar e,
também, por uma série de misteriosas histórias ouvidas, de que
muitas dessas entidades foram, em vida, iniciados no culto dos
Orixás. Muitos morreram sem ter quem lhes fizessem os ritos funerais
que os separaria dos seus Orixás que foram assentados em suas
cabeças e, portanto, estão indissoluvelmente ligados, no plano
astral, ao ambiente mágico dos ancestrais de uma nação.
Devido
ao seu modo peculiar de falar, com erros de gramática e concordância
e com expressões roceiras, que demonstra a falta de instrução
formal, os Pretos
Velhos são
menosprezados por alguns, como espíritos atrasados e de pouca luz.
Porém seus defensores argumentam que a exatidão do português e o
lirismo das palavras não indicam a elevação espiritual de ninguém.
Sustentam que grandes vultos da história da humanidade, que possuíam
uma retórica exemplar e uma personalidade magnética, foram grandes
genocidas, como Hitler e tantos outros e que, se pudessem dirigir
alguma mensagem mediúnica poderiam parecer espíritos bastante
iluminados.
A
qualidade da mensagem espiritual está no conteúdo, na compaixão
que transparece nos atos e não na forma mecânica de sua construção.
Estas
entidades, verdadeiros psicólogos, que falam a língua dos pobres e
lhes tocam o coração, são grandes curadores no plano físico e
espiritual, usando seu conhecimento fototerápico com defumações e
banhos de limpeza astral, são mais eficientes em sua caridade do que
os discursos filosóficos de uma intelectualidade distante da
realidade.
Quando falamos dessa grande falange, referimo-nos
também às entidades do gênero feminino, que povoam os terreiros
com sua graça e candura. As Pretas
Velhas,
Vovó Maria Conga, Mãe Selma da Caconde, Tia Anastácia Cambinda,
Mãe Rosa da Bahia e muitas outras.
A
mesma história, vivida pelo gênero masculino, encontramos também
entre estas entidades que passaram pelas mesmas agruras e conservaram
em seu íntimo a bondade e o perdão.
O
seu modo de incorporação, com uma postura curvada, o andar
dificultoso e o gosto pelo cachimbo de barro com fumo de rolo.
Assim
as Pretas
Velhas,
da Umbanda, são um referência de resignação e desprendimento,
erradicando os sentimentos de raiva e ressentimento que poderiam
advir das humilhações e torturas sofridas pelo seu povo no passado.
A
condição do negro, após a escravidão, não mudou muito. Apesar
disso, a postura solidária e mansa dessas entidades, tem sido um
baluarte na valorização da cultura afro-brasileira, superando a
estigmatição social de inferioridade, como um exemplo da grandeza
espiritual do povo africano, que, apesar das atrocidades sofridas,
soube semear exemplos de amor e caridade, exemplificando com suas
vidas, a força da religião que souberam preservar.
Carinhosamente,
também chamados de pai preto, estes guias ensinam uma importante
lição de humildade e resignação diante das adversidades da vida,
sem perder a alegria e o bom humor. É comum ouvir, dos mesmos,
observações jocosas a respeito dos problemas. Simplificando o que
parecia complicado, dando esperanças para fortalecer
psicologicamente seu consulente, porque sabe que se fraquejarmos na
lida da vida, os problemas se tornam maiores e não suportamos o
fardo.
A
grande lição que ensinam estas entidades é que colhemos o que
plantamos. E esta é uma grande oportunidade para rever os erros
cometidos, tomar consciência da nossa responsabilidade por nós
mesmos na busca da felicidade.
A
característica interessante é a forma descompromissada desta
prática espiritual com o formalismo e austeridade presente em outras
religiões. O adágio popular de que os velhos se parecem com
crianças, tem um profundo senso prático no trabalho dos Pretos
Velhos.
A
informalidade e humildade destas entidades fazem os fiéis se
sentirem descontraídos, como se estivessem na presença de um membro
da família ou um velho amigo mais sábio, que lhes atende e
aconselha falando francamente, procurando ajudar a resolver seus
problemas.
Uma
antiga história contada nos terreiros de Umbanda, fala de um
escravo, cativo em uma fazenda de cana-de-açúcar no Nordeste, que
desde que chegara ao Brasil, parecia ser predestinado à uma missão
espiritual.
Missão
esta, diziam, lhe ter sido outorgada por Oxalá. Apesar da dura vida
no cativeiro, nunca se revoltou com o destino.
Grande
conhecedor das ervas curativas e das mirongas de sua terra natal,
pois fora um sacerdote iniciado no culto dos Orixás, tratava dos
outros escravos, minimizando seus sofrimentos. A fama de seu trabalho
de caridade chegou até a casa grande e passou também a assistir aos
senhores brancos, sem nenhum traço de ressentimento.
Passou
a ser chamado carinhosamente, por todos, de Pai Preto e passou a vida
divulgando a prática da bondade incondicional.
Quando
já estava velho, com quase 90 anos de idade, sua história chegou
aos ouvidos de padres missionários, que, zelosos de sua catequese,
decidiram ser Pai Preto um feiticeiro pagão que deveria morrer para
servir de exemplo a quem ousasse interferir nos ensinamentos da Santa
Igreja Católica.
Foi
então dada a ordem para a sua execução. Porém até os senhores de
engenho, que também muito lhe deviam por suas curas, resolveram
burlar a ordem e esconder Pai Preto em local seguro, onde pudesse
continuar a lhes prestar serviços. Mas a obstinação e a
consciência de sua missão fizeram Pai Preto prosseguir, sem medo.
Este continuava a trabalhar, em seu corpo espiritual.
Então
as autoridades religiosas enviaram outra ordem: o “feiticeiro”
devia ser desenterrado e sua cabeça separada do corpo e enterrada
bem longe para que seus feitiços cessassem.
Desta
vez, temerosos com as possíveis conseqüências da desobediência,
seus amos resolveram matá-lo e fugir de complicações.
Assim,
beirando os noventa anos, este ancião deixa o plano físico e começa
uma nova missão no plano astral. Através dos médiuns que lhes
servem de veículo, continua o trabalho de caridade e ajuda nos
terreiros de Umbanda.
Afirmam
outros que o verdadeiro nome de Pai Preto era Jeremias e que hoje é
saudado como Pai Jeremias do Cruzeiro.
Toda
a liturgia aparentemente caótica, nas incorporações do Preto
Velho,
demonstram um quadro clássico da Umbanda. Os fiéis, ignorando o que
seus olhos vêem, enxergam não o médium, mas um velhinho negro
alquebrado pela idade e pela vida, usando às vezes um chapéu de
palha, outras um pano enrolado na cabeça, com um galho de arruda
pendurado atrás da orelha, apoiado numa bengala, fumando um cachimbo
ou um charuto, rindo e bebendo no seu coité de casca de coco, até
café amargo, bebida que muito aprecia, e, por vezes mastigando uma
rapadura.
É
quase um membro da família, aquele vovô sábio e bondoso que todos
gostariam de ter.
É
quando todas as barreiras caem e as pessoas entregam, aos seus
ouvidos pacientes, suas histórias e mazelas, sem nenhum pudor de
confessar fracassos ou desilusões. Por que não se sentem falando a
um estranho, mas a alguém que parece conhecê-los desde o início de
suas vidas.
Usa
uma vestimenta simples e branca, típica dos praticantes da Umbanda,
lembrando a pureza de sentimentos e o vínculo simbólico com Oxalá,
Pai criador dos homens e seu enorme amor pela humanidade.
Antonio
Basílio Filho – Ogan Basílio
Diretor
Jurídico do SOUESP
Publicado
em: 2005-11-11 por RayCasales, última modificação em: 2005-11-23
por RayCasales(901 vizualização(ões))Histórico
MÃE
PRETA
"O coração do inocente,
É como a terra
estrumada,
Qui a gente pranta a simente
E a mesma nace
corada,
Lutrida e munto viçosa.
Na nossa infança
ditosa,
Quando o amô e a simpatia
Toma conta da criança,
Esta
sodosa lembrança
Vai batê na cova fria.
Quem pela infança
passou,
O meu dito considera,
Eu quero, com grande amô,
Dizê
Mãe Preta quem era.
- Mãe Preta dava a impressão
Da noite de
iscuridão,
com seus mistero profundo,
Iscondendo seus
praneta;
Foi ela a preta mais preta
Das preta qui eu vi no
mundo.
Mas porém, sua arma pura,
Era branca como a orora,
E
tinha a doce ternura
Da Virge Nossa Senhora.
Quando amanhecia o
dia,
Pra minha rede ela ia
Dizendo palavra bela;
Pra cuzinha
me levava
E um cafezim eu tomava
Sentado no colo dela.
Quando
as minha brincadêra
Causava contrariedade
A minha mãe
verdadêra
Com a sua otoridade,
As vez brigava comigo
E num
gesto de castigo,
Botava os óio pra mim,
Mas porém, não me
batia,
Somente pruque sabia
Qui mãe preta achava ruim.
Por
isso eu não tinha medo,
Sempre contente vivia
Mexendo nos meus
brinquedo
E fazendo istripolia.
Dentro de nossa morada,
Pra
mim não fartava nada,
O meu mundo era Mãe Preta;
Foi ela quem
me ensinou
Muntas cantiga de amô,
E brincá de carrapeta.
Se
as vez eu brincando tava
De barbuleta a pegá,
E impaciente
ficava
Inraivicido a chorá,
Ela com munta alegria,
Um certo
jeito fazia,
Com carinho e com amô,
Apanhava as barbuleta;
Foi
ela uma santa preta,
Que o mundo de Deus criou.
Se chegava a
noite iscura
Com seus negrume sem fim,
Ela com toda
ternura,
Chegava perto de mim
Uma coisa cochichava
E depois
qui me bejava,
Me levava pra dromida
Sobre os seus braços
lustroso.
Aquilo sim, era gozo,
Aquilo sim, era vida.
E
despois de me deitá
Na minha pequena rede,
Balançava
devagá
Pra não batê na parede,
Contando estes lindos
verso
Qui neste grande universo
Ôtros mais belo não vi,
E
enquanto ela balançava
E estes versinho cantava,
Eu percurava
dromi.
Dorme, dorme, meu menino,
Já chegou a escuridão,
A
treva da noite escura
Está cheia de papão.
No teu sono terás
beijos
Da rosa e do bugari
E os espíritos benfazejos
Te
defendem do saci.
Dorme, dorme, meu menino,
Já chegou a
escuridão
A treva da noite escura
Está cheia de papão.
Dorme
teu sono inocente
Com Jesus e com Maria,
Até chegar
novamente
O clarão do novo dia.
Iscutando com respeito
Estes
verso pequenino,
Eu sintia no meu peito
Tudo quanto era
divino;
Nem tuada sertaneja,
Nem os bendito da igreja,
Nem
os toque de retreta,
In mim ficaro gravado,
Como estes versos
cantado
Por minha boa Mãe Preta.
Mas porém, eu bem
menino,
Qui nem sabia pecá,
Os ispinho do destino
Começaro
a me furá.
Mãe Preta qui era contente,
Tava um dia
deferente.
Preguntei o que ela tinha
E assim que ela oiô pra
eu
Dois pingo d'água desceu
Dos óio da coitadinha.
Daquele
dia pra cá,
Minha amorosa Mãe Preta,
Não pôde mais me
ajudá
Nas pega de barbuleta,
Sem prazê, sem alegria
Dentro
de um quarto vivia,
O dia e a noite intêra,
Sem achá
consolação,
Inriba de seu coxão
De foia de bananera.
Quando
ela pra mim oiava,
Como quem sente um desgosto,
A minha mão
apertava
E o pranto banhava o rosto.
Divido este
sofrimento,
Naquele seu aposento,
No quarto onde ela viva,
Me
proibiro de entrá,
Promode não magoá
As dô que a pobre
sintia.
Eu mesmo dizê não sei
Qual foi a surpresa
minha,
Quando um dia eu acordei,
Bem cedo domenhãzinha
Entrei
na sala e dei fé
Qui um magote de muié
Tava rezando oração;
E
vi Mãe Preta vestida
Numa ropona comprida,
Arva, da cô de
argodão.
Sinti no peito um cansaço,
Depois uns home
chegaro
Levantaro ela nos braço
E numa rede botaro.
A rede
tava amarrada
Numa peça perparada
De madêra bem polida,
E
naquela mesma hora,
Levaro de estrada afora
Minha Mãe Preta
querida.
Mamãe com todo carinho,
Chorando um bêjo me deu
E
me disse - meu fiinho,
Sua Mãe Preta morreu!
E ôtras coisa me
dizendo,
Sinti meu corpo tremendo,
Me jurguei um pobre réu,
Sem
consolo e sem prazê,
Com vontade de morrê,
Pra vê Mãe Preta
no céu.
O coração do inocente,
É como terra estrumada
Que
a gente pranta a semente,
E a mesma nasce corada
Lutrida e
munto viçosa;
Na nossa infança ditosa,
Quando o amô e a
simpatia
Toma conta da criança,
Esta sodosa lembrança
Vai
batê na cova fria".
Autor: Patativa Do Assaré, ou
ANTONIO GONÇALVES DA SILVA, direto do Ceará. Morreu em 2002 com 93
anos.